Quando se perde alguém

Não se perde apenas, a presença física. Não se sente apenas a falta do cheiro, da vida, do respirar.
Quando perdemos alguém, perdemos o sorriso, as palavras, as futuras memórias.
E com quem se vai, perdemos também um pouco de nós.
Ficamos seres mais diminuídos no nosso âmago.
Passamos a viver a vida de maneira diferente.
Tornamos os nossos dias mais importantes, mais significativos.
Ou pelo menos é isso em que queremos acreditar, pois agora percebo que a maior parte do tempo o que fazemos é cansar-nos até à exaustão de nós próprios.
Ficamos tão perdidos dentro de nós mesmos que nos esquecemos de viver.
A dor é tão grande que atropela o resto. Apaga a gargalhada pura, o abraço sentido, o incentivo do amigo.
Há meses que perco alguém, que me perco, que me perdem.
Estou absolutamente exausta.
Queria muito que me encontrassem, que me vissem. Por uma vez na minha vida.
Porque há pessoas que se perdem por que a vida, a natureza assim o quis, outras não.
Outras perdemos porque elas assim o quiseram.
Nada disto é justo. Nada disto eu procurei.
Quero calma. Paz no meu peito. Águas calmas onde hoje há tufões.
É tudo o que mais quero.