quarta-feira, maio 20, 2009

Voltei a encontrar-te

Rita, nascida e criada naquilo que os ignorantes chamam de um Alentejo profundo. Pequena de tamanho, mas grande em ideias e valores. Os dias pouco tinham para se entreter naquele local perdido entre uma serra e terras áridas, de planícies no Inverno inférteis, na Primavera tapetes de cores e no Verão mantos amarelos de erva seca e animais sedentos.

Os livros sempre foram a sua chama. O que ateava a sua alma que já era demasiado grande para tão pequeno corpo. O sorriso e a gargalhada sempre os mesmos.

Nessa altura muitos fizeram parte das horas passadas entres livros bafientos, na única biblioteca em muito quilómetros: Fiama Hasse Brandão, Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, e tantos outros eram seus companheiros de aventuras, de emoções e de tertulia.

Mas entre eles, um foi sempre o mais especial, o António, o Ramos Rosa. Com ele se apaixonou pela primeira vez, chorou de dor que não se explica, sorriu com as borboletas que pulavam no seu estômago, escrevinhou versos seus de inspiração alheia, foi seu primeiro companheiro.

E ontem reencontrei-te numa montra, arrumado numa das prateleiras como que a chamar de novo por mim e a quereres mostrar-me, que tu sim, vais ficar comigo para sempre.

Trouxe-te para casa e li-te como se nunca te tivesse lido antes, vivi de novo as emoções, os principios e os poucos finais, bebi as palavras como se fosse a primeira vez.

E aqui te deixo para outros te viverem e te sentirem como eu te senti:

(...)
Aspiro na noite tranquila o teu aroma de amêndoa
o teu sopro de lâmpada sobre a nudez pressentida
sinto o odor da tua sombra
e quase poderia traçar o teu nome na tua sombra
eu a sombra e o teu nome

Ainda respiras sob o silêncio das estrelas
porque tu própria és uma respiração de estrela
Como cavalos que tropeiam no escuro
as minhas palavras bebem as sombras anbandonadas
o hálito de uma calma imóvel
mas não tocam a madura indolência
dos teus flancos da guitarra
(...)

in "Clamores", António Ramos Rosa

4 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto e pela qualidade. Keep on being you. Ths

GuessWho disse...

pois que gostei muito :) continua! eu ando também por aqui...sexoprozac.blogspot.com
passa por lá ;)
bjs

Luis Filipe Gomes disse...

Ramos Rosa sim!
Eu nasci em Lisboa. Para quem esteja no Alentejo eu nasci Além Tejo, por isso devo ser Alentejano.
Eu sinto-me Alentejano. Se não como explicar o meu gosto por sopas de pão e ervas, ou a pele arrepiada pelas vozes do cante.
Muito bem escreves tu e és água fresca na caminhada de Julho.
Luís

GuessWho disse...

então?? não há coisas para partilhar? vá lá! gosto do que escreves :)