De que nos serve, no sábado à noite, quando a solidão dos abandonados vem ter connosco à mesa dos cafés, termos sido aquele a quem se disseram palavras de amor, terem-nos tocado e olhado, esperado por nós, enquanto ao longe os automóveis passavam, as pessoas, apressadas, continuavam a procurar, febris, a felicidade? Rompem-se as cordas, soam nos rios tristes da memória os sinos da miséria e da escuridão. E se chove, a melancolia que nos oprime já não se dilui nessa água suave. A rapariga que podíamos ter amado, a última, contempla as folhas verdes das árvores, sorri, e imagina, sentada ao nosso lado, uma alegria dolorosa, sem pensar em nós, distraída da densidade baça do nosso olhar. E à uma da manhã, quando o cansaço vem, e no espelho da casa de banho de um bar o rosto se nos revela atormentado, os poros gordurosos, dirigimo-nos devagar para a saída, dizemos boa-noite, e é só nossa e~a morte secreta, esse abandono.
João Camilo A Ambição Sublime Fenda 2001 |
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